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M U D A M O S !!!
peça mais
devagar escreva
uma primeira letra
escreva
uma primeira letra
escreva
nas imediações construídas
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano da boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais
.
pelos furacões;
devagar meça
a primeira pássara
bisonha que
riscar
o pano da boca
aberto
sobre os vendavais;
devagar imponha
o pulso
que melhor
souber sangrar
sobre a faca
das marés;
devagar imprima
o primeiro
olhar
sobre o galope molhado
dos animais; devagar
peça mais
e mais e
mais
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Ana Cristina César
Ana Cristina César
(Flores do Mais)
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fim do mundo
Herdeiros do fim do mundo
queimai vossa história
tão mal contada
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(Lirinha -- Cordel do Fogo Encantado)
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cidadania bissexta
E a restauração dos cubos de Athos Bulcão na fachada do Teatro Nacional, hein? Quanto tempo ainda vai demorar? Agora que a cidade se livrou, pelo menos temporariamente, do delirante obelisco de Niemeyer, e que tantas pessoas se encheram de brio para protestar contra o projeto da tal Praça, podíamos aproveitar o embalo para dar uma acelerada nessa obra, não? Ê cidadaniazinha bissexta, que a gente só exerce uma vez na vida e outra na morte!
transeunte num cenário sombrio
É meu cenário de todos os dias. Nem sempre é sombrio. Depende da foto. Uma coisa é uma coisa, uma foto é outra coisa...
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no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra
.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
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(Carlos Drummond de Andrade)
nada fica nos teus olhos
Canção do berço
O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.
Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos,
trezentos corpos de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.
Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).
Carlos Drummond de Andrade
uma canção
Minha terra não tem palmeiras
E em vez de um mero sabiá
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há
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Minha terra tem relógios
Cada qual com sua hora
Nos mais diversos instantes
Mas onde o instante de agora?
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Mas onde a palavra "onde"?
Terra ingrata, ingrato filho
Sob os céus da minha terra
Eu canto a Canção do Exílio
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(Mário Quintana)
livros, livros
Biblioteca do Açougue Cultural T-Bone numa parada de ônibus do começo da W3 norte. Projeto lindo, fazendo sucesso há um ano e meio. Doe livros. Veja em www.t-bone.org.br (Parada Cultural).
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fusquinha e flamboyant
Adoro fuscas. Faço coleção. De fotos, claro. Fusquinha e flamboyant, e um chão atapetado de flores e sombras, e meu amorzinho atravessando a rua. Num domingo.
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privilégio
Essa aí sou eu, lavando o rosto com água da nascente. Sabe onde? No parque Olhos D'Água, a poucos metros da minha casa. Privilégio de brasiliense. A foto é da minha filha Bruna.
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gervásio baptista, fotógrafo
Há um monte de fatos incríveis na vida deste homem, mas para mim o mais impressionante é que ele tem 85 anos de idade e trabalha em dois empregos -- muitas horas por dia, e feliz da vida. É fotógrafo da Agência Brasil pela manhã e do Supremo Tribunal Federal à tarde. Dependendo da pauta, não tem hora para sair, como todo fotógrafo. Miudinho, carrega quilos de equipamento. Começou a trabalhar aos nove anos de idade, portanto tem 76 anos de carreira. E viu de tudo nesses anos. Ouvi-lo contando seus casos é uma coisa impagável. Se estiver curioso, dê uma googada nele...
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minha paisagem
ficou pronta a casinha...
...do meu casal de vizinhos. Há uma semana, eles ainda estavam na metade da obra (veja mais abaixo). Agora estão só curtindo...
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no furacão
quero
ser o riso
e o dente
.
quero
ser o dente
e a faca
.
quero
ser a faca
e o corte
.
em um só
beijo
vermelho
.
eu
sou a raiva
e a vacina
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procura
de pecado
e conselho
.
espaço
entre a dor
e o consolo
.
a briga
entre a luz
e o espelho
.
fiz meu berço
na viração
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eu só descanso
na tempestade
.
só adormeço
no furacão
.
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(Tom Zé)
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